A 2ª edição da Galeria a Céu Aberto, promovida pelo Instituto Alpha Lumen, caminha para se tornar um grande evento cultural. Em particular neste ano, quando se comemora o centenário da Semana de Arte Moderna ocorrida em São Paulo e os 200 anos de independência do Brasil. A exposição está programada para os dias 23, 24 e 25 de junho, em São José dos Campos, cidade sede do Alpha Lumen.
A contextualização da temática desta edição do projeto Galeria a Céu Aberto mostra seu grau de importância. Há 100 anos, entre 13 e 17 de fevereiro, ocorreu no Theatro Municipal da capital paulista a reunião de artistas de diversas áreas, entre escritores, músicos, intelectuais, pintores e escultores na Semana de Arte Moderna.
As obras, que rompiam com os padrões estéticos vigentes à época e buscavam Ressignificar, Reconectar para Construir um novo modelo vanguardista das artes no Brasil. O evento mudou o cenário cultural brasileiro para sempre. Esse foi o ponto de ebulição de um movimento que tomava forma no Brasil desde o início do século 20.
O conceito fundamental da Semana de 22 está presente na Galeria deste ano. O evento já está entre as grandes mobilizações artísticas entre estudantes do país, dando visibilidade única para os trabalhos e seus autores e discutindo novas linguagens e cenários artísticos. As inscrições foram abertas para interessados de todo o Brasil.
Os trabalhos escolhidos serão expostos nos muros do Projeto Escola do Alpha Lumen, em São José dos Campos, e os vencedores serão premiados pelo instituto. O tema Reconectar, Ressignificar para Construir também está ligado a recuperação do poder de se expressar no pós- pandemia. Essa é o segundo ano consecutivo do evento. No ano passado, o tema da primeira edição foi ‘Depois que Tudo Isso Acabar’ e estava ligado a questão da doença.
Neste ano o homenageado será o músico Fernando Anitelli, do grupo Teatro Mágico, e sua arte. Além da menção ao centenário da Semana de Arte Moderna de 22, que promoveu a ressignificação das artes do país, também será lembrado do bicentenário da independência.
Artistas que participaram da Semana de Arte Moderna em 1922
Os artistas que participaram da Semana de 22, como ela ficou conhecida, eram jovens idealistas e visionários que procuravam uma renovação das artes e da cultura em solo brasileiro.
Anita Malfatti (1889-1964)
A pintora, desenhista e professora Anita Malfatti foi talvez a mulher de maior relevância a participar da Semana de Arte Moderna. Entre 1910 e 1914, Anita estudou na Alemanha e lá entrou em contato com as tendências de vanguarda, como o expressionismo, que se manifesta fortemente em seu trabalho.
Apresentando uma pintura alinhada com o modernismo europeu, ela já havia causado polêmica em 1917 ao realizar uma exposição, que foi duramente criticada, principalmente pelo escritor Monteiro Lobato (1882-1948).
Assim, em 1922 participou da Semana com cerca de 20 telas, entre elas A boba (1916). A pintura traz muitas características do modernismo, com cores marcadas, irreverência, deformidades, rejeição ao academicismo e às figuras realistas.
Di Cavalcanti (1897-1976)
Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo, ou apenas Di Cavalcanti, foi um dos criadores da Semana de Arte Moderna.
Desenhista, caricaturista, pintor e escritor, foi ele quem criou o cartaz e o catálogo do evento. Além disso, expôs mais de 10 trabalhos na ocasião.
Buscava através de sua obra a valorização da cultura brasileira, trazendo temas regionais, como as festas populares e o povo.
Uma das grandes influências para Di Cavalcanti foi o pintor cubista Pablo Picasso, além do muralismo mexicano de Diego Rivera.
Mario de Andrade (1893-1945)
O intelectual Mario de Andrade foi, além de escritor, crítico de arte, fotógrafo e pesquisador de música e de folclore.
Ele desenvolveu um intenso trabalho de valorização da identidade e diversidade nacional, se tornando um dos expoentes da cultura no país.
Sua atuação na Semana de 22 foi muito significativa, sendo um dos principais organizadores do evento.
Foi nesse ano também que ele lança Paulicéia Desvairada, um marco para o movimento modernista, inaugurando sua primeira fase.
No livro são apresentados poemas que exibem de maneira ousada a efervescência e tensão na metrópole paulistana no início do século XX.
Oswald de Andrade (1890-1954)
Outro grande articulador da Semana de 22 foi o escritor e agitador cultural Oswald de Andrade.
Vindo de uma família de posses, Oswald permaneceu um tempo na Europa e lá conheceu de perto algumas tendências da arte moderna que estava em seu auge.
Ao retornar ao Brasil, sente necessidade de colocar em prática algumas dessas influências europeias, mas buscando tratar de questões e temas nacionais.
Assim, organiza-se com amigos e pensa em uma maneira de mostrar essa nova estética, criando a Semana de Arte Moderna.
Mais tarde, casa-se com Tarsila do Amaral (1886-1973). A importante pintora não esteve presente na Semana de 22, mas foi um nome essencial para a implementação do modernismo no Brasil.
Juntos, criam o Movimento Antropofágico, que tinha como objetivo a valorização da cultura brasileira e foi muito relevante na primeira fase do modernismo nacional.
Victor Brecheret (1894-1955)
Quando se fala em escultura moderna na arte brasileira, um nome que se destaca é o do ítalo-brasileiro Victor Brecheret.
Brecheret também teve parte de sua formação artística na Europa, o que influenciou diretamente seu trabalho.
Assim, em 1922 o artista também estava entre os modernistas que se apresentaram na Semana, exibindo 12 peças no Theatro de São Paulo.
Manuel Bandeira (1886-1968)
Manuel Bandeira é um dos mais renomados escritores da primeira geração modernista. Conhecido principalmente pela sua poesia, Bandeira também foi cronista, tradutor e professor.
Em 1917 publicou seu primeiro livro, A cinza das horas, que reúne poemas onde alguns aspectos da estética modernista já aparecem.
Mais tarde conhece Oswald de Andrade e se envolve em discussões acerca das novas formas de arte presentes nas vanguardas europeias.
Assim, participa da Semana de 22 com o poema Os sapos, recitado por Ronald de Carvalho. A apresentação foi vaiada, pois o público não compreendeu e não aceitou o texto, cheio de críticas ao conservadorismo.
Temas recorrentes em sua produção são as situações do cotidiano, melancolia e a infância, exibidos em versos livres e uma escrita informal.
Villa-Lobos (1887-1959)
O multi-instrumentista e maestro Heitor Villa-Lobos foi um dos artistas brasileiros que teve uma enorme importância no contexto modernista, no início do século XX, deixando um legado precioso.
Participou da Semana de 22 tocando nos três dias do evento, pois sua música reunia as características essenciais do modernismo, aliando música clássica e popular, resultando em uma produção ousada e transformadora.
São muitas as suas músicas de destaque, como a série de composições intitulada Bachianas Brasileiras, produzidas a partir da década de 30.
Guiomar Novaes (1895-1979)
Foram poucas as mulheres presentes na Semana de 22, mas no campo da música merece destaque a pianista Guiomar Novaes.
ainda criança e tem formação na França. Na década de 20 vem ao Brasil e em 1922 participa da Semana tocando músicas da Chopin.
Guiomar Novaes consolida sua carreira internacionalmente, levando a outros países o trabalho de seu colega Villa-Lobos.
Menotti Del Picchia (1892-1988)
Menotti Del Picchia foi um dos articuladores da Semana de Arte Moderna.
Escritor, político, advogado e pintor, Menotti teve uma atuação importante no evento, inaugurando a segunda noite, a mais polêmica.
Artista precoce, Novaes inicia os estudos no piano Com Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Mário de Andrade e Oswald de Andrade, forma o Grupo dos Cinco, que defendia a ideologia modernista proposta na Semana.
Entretanto, contraditoriamente, mais tarde se junta com Plínio Salgado (1895-1988), Guilherme de Almeida (1890-1969) e Cassiano Ricardo (1895-1974) e idealiza o Movimento Verde-Amarelo, que se opunha aos valores antropofágicos de Tarsila e Oswald, fundando assim uma corrente nacionalista com viés fascista.
Vicente do Rego Monteiro (1899-1970)
A mostra de pintura na Semana de Arte Moderna contou também com trabalhos do jovem artista pernambucano Vicente do Rego Monteiro.
O pintor, que na época tinha 23 anos, já possuía uma produção madura, trazendo muitas influências das vanguardas europeias. Isso porque havia estudado artes em Paris no começo da juventude, entrando em contato direto com as inovações que lá surgiam.
Uma das tendências que mais aparece em suas telas é o cubismo. Seus quadros são marcados por formas geométricas e simplificações, exibindo as figuras de forma quase escultórica.
Foto: Acervo Biblioteca Nacional
Zina Aita (1900-1967)
Teresa Aita, conhecida como Zina Aita, é uma artista pouco lembrada atualmente, mas foi uma das precursoras da arte moderna, especialmente em Minas Gerais, seu estado de origem.
Também estudou na Europa, como a maioria dos artistas modernos. Quando retorna ao Brasil se aproxima do grupo modernista, se tornando amiga de Anita Malfatti e Mario de Andrade.
Sua obra, composta por pinturas, cerâmicas e desenhos, integra elementos do pós-impressionismo e art nouveau.
Dois anos após a Semana, Aita passa a morar na Itália, onde suas peças em cerâmica fazem sucesso e ela se torna reconhecida.
Cassiano Ricardo Leite (1894-1974)
Nasceu em São José dos Campos (SP). Formado em Direito e um dos mais importantes jornalistas brasileiros do século 20, ingressou na Academia Brasileira de Letras em 1937, eleito em dezembro para ocupar a cadeira 31. Tomou contato com o modernismo em 1924, tornando-se um dos líderes do movimento pela Semana de Arte Moderna, que ocorreu dois anos antes. Criou e participou dos grupos Anta e Verde Amarelo, junto a nomes como Cândido Mota Filho, Menotti del Picchia, Plínio Salgado e Raul Bopp. Em 1937 fundou, com Menotti del Picchia e Cândido Mota Filho, o movimento a Bandeira, uma ação político-cultural de cunho social democrata e que se contrapunha ao Integralismo. Escreveu cerca de 50 obras, a maioria delas em versos e também ensaios antropológicos. Recebeu diversos prêmios ao longo da vida, como Juca Pato, dois Jabutis entre outros ligados a literatura.
Guilherme de Almeida (1890-1969)
Nasceu em Campinas (SP), foi um dos organizadores da Semana de Arte Moderna de 22. Advogado, jornalista, tradutor, poeta e ensaísta. Foi o primeiro modernista a entrar para a Academia Brasileira de Letras em 1930. Terceiro ocupante da Cadeira 15, eleito em 6 de março de 1930. Recebeu o Acadêmico Cassiano Ricardo, de quem foi amigo pessoal. Em 1958, foi coroado o quarto “Príncipe dos Poetas Brasileiros”. Participou com Menotti e Cassiano, além de Candido Mota, de vários movimentos políticos e culturais. Teve participação efetiva na Revolução Constitucionalista de 32, inclusive indo para o front de batalha. Sua casa no bairro Pacaembu, na capital paulista, em 1979, tornou-se o Museu Casa Guilherme de Almeida, pertencente à Secretaria de Estado da Cultura do Governo do Estado de São Paulo.
Tarsila do Amaral (1886-1973)
Nasceu em Capivari (SP), ela também é considerada uma grande influenciadora do movimento da arte moderna, ao lado de Anita Malfatti, Menotti Del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Assim como Cassiano Ricardo, não esteve na Semana de Arte Moderna, pois se encontrava na Académie Julian, em Paris, onde estudava. Tarsila foi uma pintora, desenhista e tradutora brasileira. E é compreendida como uma das principais artistas modernistas latino-americanas, além de ser considerada a pintora que melhor alcançou as aspirações brasileiras de expressão nacionalista nesse estilo artístico. Entre suas obras está o quadro Abaporu.
Fonte: https://www.todamateria.com.br/artistas-que-participaram-da-semana-de-arte-moderna/