Os estudantes Luan de Souza Silva e Miguel Diniz Santos foram classificados nas seletivas da mais importante Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica, IOAA – International Olympiad on Astronomy and Astrophysics. Eles farão parte da delegação brasileira que representará o nosso país na Competição Eletrônica Global de Astronomia e Astrofísica (GeCAA).
Por causa da pandemia da COVID-19, o Conselho Internacional e o Comitê das Olimpíadas de Astronomia decidiram cancelar a IOAA deste ano e organizar a GeCAA que deverá ser no formato On-Line com as categorias individuais e por equipe.
A Olimpíada
Centrado em promover o crescente interesse pela Astronomia e disciplinas relacionadas, especialmente através da educação geral de jovens, potencializando o desenvolvimento de contatos internacionais entre escolas e alunos do ensino médio, a IOAA é uma oportunidade de estudar astronomia em nível universitário para aqueles que desejam se tornarem os astrônomos da próxima geração.
Na Categoria Individual, cada participante deverá comparecer nas três rodadas de teste online. Um teste será baseado em problemas teóricos, um em problemas de análise de dados e outro em problemas de observação. As rodadas desta categoria serão realizadas nos dias 25, 26 e 27 de setembro de 2020 e cada teste terá de 02 a 03 horas de duração. Já na Categoria de Equipe, os participantes serão agrupados em times internacionais mistos pelos organizadores e terão um conjunto de tarefas para resolver de forma colaborativa. As equipes receberão as tarefas em 28 de setembro de 2020 e deverão apresentar suas soluções até 12 de outubro de 2020. Em ambas as categorias, os participantes receberão certificados pelo desempenho que indicarão seu nível conhecimento.
Para conseguirem a classificação na Olimpíada Internacional de Astronomia foi preciso muito esforço e determinação. Além de aprender a controlar os nervos para realização das provas, os estudantes tiveram que passar por alguns desafios e uma série de treinamentos com diversas listas de exercícios e provas com as melhores pontuações na OBA – Olimpíada Brasileira de Astronomia. Neste caso, é necessário obter uma nota superior a 7, depois tem a etapa online da seletiva com três fases e somente cerca de 200 pessoas são selecionadas para a próxima etapa na Barra do Piraí, onde os estudantes ficam quatro dias para concluir cinco provas: duas provas teóricas, uma prova de carta celeste, outra de planetário e, finalmente, a prova observacional em céu real.
Geralmente, 25 estudantes são classificados para o treinamento, mas este ano o comitê da OBA aumentou para 46 com aulas e listas de exercícios online, valendo nota para a classificação no IOAA e OLAA – Olimpíada Latino Americana de Astronomia e Astronáutica. Em 2020, apenas 20 pessoas passaram para a GECAA. Dez para a prova em equipe, dez para a prova individual.
Tudo é possível com determinação e foco
Exemplo de superação e genialidade, aos 17 anos, Luan Silva conta que a jornada até a classificação foi bastante longa, e teve seu início em 2018. “Eu estudei bastante naquele ano, para fortalecer a minha base em matemática e física, já que antes de entrar no Alpha Lumen, meu conhecimento nessas matérias era precário e eu nunca havia participado de uma olimpíada antes, então eu comecei a estudar ainda mais, e aí eu descobri uma nova área da matemática: O Cálculo diferencial e integral.”
Ao todo são 26 medalhas, sendo 3 delas esportivas e 16 em olimpíadas, Luan já acumula 54 certificados, dividido entre certificados olímpicos e certificados do escoteiro. Sua paixão pelos números é tão grande que até um livro de Cálculo ele já começou a escrever e revela: “Já está com mais de 100 páginas!”. Mas nem todas as suas conquistas são só de exatas: Duas delas foram as medalhas na OBG – Olimpíada Brasileira de Geografia), sendo uma de bronze e uma de ouro, um certificado por ter chegado na semifinal da OBRAC – Olimpíada Brasileira de Cartografia, Ouro na ONC – Olimpíada Nacional de Ciências e outros dois certificados da OBB – Olimpíada Brasileira de Biologia.
Com seu pai desempregado e sua mãe trabalhando como estagiária em uma escola municipal, Luan que é morador da periferia de São José dos Campos, precisava acordar bastante cedo (5:30 da manha) para pegar ônibus às 6, e chegar na escola às 7:50. Para ele, o trabalho duro vence o dom natural. “Geralmente eu ficava na escola até as 18 ou 19h e chegava em casa às 21h, e após esse horário ainda tinha que comer, tomar banho, etc, para então fazer as tarefas e estudar para olimpíadas e afins”. Sendo assim, eu ia dormir em torno de 2h da manhã. Essa rotina era de segunda a sábado, e por isso eu acabava ficando bastante esgotado.” Apesar dissso, ele conseguiu a 23ª posição no Ranking geral na Olimpíada Nacional de Astronomia da Estônia.
“Atualmente eu tenho uma rotina mais leve. Acordo às 8h e vou estudar às 9h. Durante as aulas, geralmente eu estudo para a olimpíada ou escrevo o meu livro, nos intervalos eu faço atividade física. Às 13h eu almoço e estudo e depois passo à tarde/noite toda estudando. Exceto sexta, já que eu dou aula de física para os meus colegas às 14:30, depois eu vou para a neuropsicóloga e para a psicologa.”, conclui o jovem classificado na Modalidade de Equipe para a IOAA, onde terá a oportunidade conhecer pessoas de diversos países. “O único problema de se fazer prova online, é que como a minha internet é bem limitada, demora muito tempo para enviar arquivos, então eu tenho que organizar meu tempo muito bem para conseguir enviar as resoluções.”
Se para o Luan, que não por acaso seu nome foi escolhido em virtude da Lua e o desejo pela área de ciências se deu por causa do filme Wall-E que serviu de inspiração para aprimorar espectroscópios caseiros e construir seu próprio radiotelescópio, para Miguel Santos, 18 anos e também aluno do Alpha Lumen, a curiosidade sobre o funcionamento das coisas ao seu redor e as explicações por trás dos fenômenos e suas descrições foram o que despertaram uma tendência para a busca das Ciências Naturais e Exatas.
As escolhas que fazemos naquilo que acreditamos
Miguel também estudou em escola pública e até poder fazer parte do Clube dos Sonhos e estudar no Projeto Escola do Instituto Alpha Lumen, teve muita dificuldade de acesso, incentivo ou mesmo oportunidades reais de buscar e aprender mais sobre Astronomia e Astrofísica. “O IAL foi responsável por uma completa mudança na minha vida. Graças a ele eu saí de minha escola pública e tive acesso a uma nova forma de ver a vida, a valores e propostas diferentes de ensino. Desde a postura em sala de aula, o sentimento de união dos alunos, até a forma de encarar a vida, foi tudo fruto desse novo ambiente com professores extraordinários”, nos conta o jovem Miguel que faz questão de reforçar que sem colaboração com alunos talentosos e interessados ele jamais teria tido tantas conquistas e tampouco pensaria da mesma forma sem as pessoas que compõem esse instituto.
Filho de uma professora de Balé e pai escrevente de um cartório de registro de imóveis, Miguel já possui 33 premiações em Olimpíadas Científicas, sendo 31 delas na área de Exatas. E foi com a medalha de ouro na Olimpíada Brasileira de Astronomia que ele alcançou o desafio de participar das Seletivas para as Olimpíadas Internacionais de Astronomia. Mas antes disso, ele teve que fazer uma escolha e desistir de um outro sonho que era participar da competição de robótica no EUA pelo Time Alphabots #1860. Resultado, com mais tempo de preparação e estudo, tudo ocorreu da mesma forma: medalha de Ouro na OBA, etapa online do processo seletivo, etapa presencial, e finalmente a classificação.
O jovem talentoso que também irá integrar à Equipe Brasileira vai competir na modalidade individual e por isso segue firme no treinamento e explica como estão seus estudos durante a pandemia: “Um pouco atribulados. Se por um lado, com o menor tempo gasto em locomoção e trajetos, há mais disponibilidade para o estudo, mas também é inevitável o impacto mental causado pelo atual contexto, como o cansaço, desânimo ou até mesmo um sentimento de falta de sentido. Algo como se estou vivendo uma pandemia, por que deveria sentar na cadeira e estudar por horas e horas no meio de tudo isso?”.
Apesar de tudo, o estudo também serve como uma válvula de escape porque ajuda a mudar o seu foco de pensamento: “O entusiasmo com as informações e novos entendimentos novos vão crescendo, e então as coisas fluem mais naturalmente, até que no final do dia, surge aquele sentimento de satisfação por ter conseguido progredir.”
A mudança já está acontecendo
Engana-se o leitor em pensar que esses jovens de mentes tão complexas tenham sonhos absolutamente diferentes. Tanto o Luan Silva que o leitor teve a oportunidade de conhecer logo no início dessa reportagem, quanto o Miguel Santos, ambos tem o mesmo objetivo: “fazer um mundo melhor”.
Luan, que este ano participa da Comissão e Coordenação da OIMC – Olimpíada Internacional de Matemática e de Conhecimento e que busca ser bastante inclusiva, pretende ser um pesquisador na área de astrofísica e contribuir com a educação de outros jovens interessados. “O meu objetivo não é crescer financeiramente. Eu vou fazer o máximo pra que todos os meus trabalhos sejam disponibilizados gratuitamente e trazer conhecimento para as pessoas”.
Miguel, que ainda não sabe ao certo com o que irá trabalhar tem a certeza, no entanto, de que para melhorar as condições do nosso planeta é preciso direcionar os esforços no impacto da educação e formação dos indivíduos. “Acredito que por ter estudado em escola pública, e posteriormente ter tido a chance de entrar no IAL, é impossível eu deixar de pensar no que teria acontecido comigo se eu não tivesse encontrado essa oportunidade única, e em quantas pessoas infelizmente não a tem.”
Algumas estrelas que rasgam o céu passam em um piscar de olhos, mas no Alpha Lumen elas deixam marcas e brilham para sempre. Observamos isso com muita atenção quando podemos contar histórias de jovens como o Luan Silva e Miguel Santos.
Parabéns, meninos! E boa sorte!
FONTE: JORNALISMO COLABORATIVO